O que é a solidão

O que é a solidão

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“Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia.”
(Friedrich Nietzsche)

Existe um escritor japonês chamado Haruki Murakami, de quem gosto bastante. Suas histórias são um pouco loucas e muito urbanas. Vários de seus personagens estão perdidos na multidão. Levam a vida isolados.

Moram desacompanhados. Não tem amizades estreitas no trabalho. Retornam ao final do dia para casa. Preparam a sua comida. Comem, ouvem música, leem e dormem. Sozinhos.

No último livro dele que li, O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação, fiquei tentando descobrir se o personagem principal era um solitário. E, afinal, cheguei à pergunta que está por trás desta crônica. O que é a solidão?

A solidão é um sentimento. Você não é só. Você não está só. Você se sente só.

Pare para observar o seu entorno. Nele, certamente há pessoas solitárias. É necessário prestar alguma atenção para identificá-las. Geralmente não reparamos nos solitários. Eles flutuam através da nossa vida como balões largados ao vento; leves demais para ir à terra, pesados demais para subir ao céu.

Eu conheço, por exemplo, a Maria (cujo nome, obviamente, não é esse). Ela encadeia uma série de relacionamentos. Alguns com pessoas constrangedoramente erradas. Tudo para não ficar sozinha. Aliás, casamentos e seus afins, muitas vezes, são apenas isso. Duas solidões que coabitam.

Maria não consegue suportar a sua própria e esmagadora presença. Ela sufoca. Ter alguém ao seu lado é oxigênio. Não consegue pensar num futuro sem alguém. Ela está programada para conviver. Na companhia dos outros, pode esquecer de si mesma.

Os solitários são pessoas carentes e desconectadas. Melhor dizendo, são pessoas carentes por estarem desconectadas. Estão descontadas de outras pessoas, mas, mais importante, estão desconectadas de si mesmas. Não percebem a sua própria vastidão interior e acham que o mundo é um local estreito pela ausência de companhia.

Sinto lhe dizer. A única companhia que você terá, durante toda a sua vida, é você. Se não gostares dela, é melhor sentar-se sozinho e discutir esta relação. Goste-se. Cultive-se. Há várias opções.

Isso não é um guia de autoajuda, mas a arte está à sua disposição para abrir os alçapões em sua mente e conectar aqueles fios soltos. Leia, ouça, veja, reflita, sinta, corra, nade, medite. Transforme esse tempo sozinho em um tempo de diversão e crescimento. Aproveite-se.

Bens não substituem pessoas, mas ideias nos preenchem; a solidão é o oposto, é o vazio da ausência.

Alguém que convive bem consigo, é atraente para as demais pessoas. Naturalmente, portanto, se não morar em alguma ilha deserta ou estiver sozinho em algum mundo pós-apocalíptico, estabelecerá relacionamentos saudáveis com outras pessoas. Em algum momento, todos desejamos conviver, rir, chorar, trocar experiências e fluidos. Esse é o nosso instinto gregário. Não se deixe enganar por ele, contudo. A conexão com os outros é uma consequência da conexão com você.

Afaste-se da solidão. Desfrute do privilégio da sua companhia.

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