Por que ler “Para ler como um escritor”

Por que ler “Para ler como um escritor”

Para ler como um escritor é um livro importante para quem quer aprender a escrever, abordando os principais tópicos do assunto.

Se você vai ler um livro de técnica de escrita, Para ler como um escritor é um título adequado. Tanto o título quanto o subtítulo – Um guia para quem gosta de livros e para quem quer escrevê-los – deixam isso claro.

O livro parte de uma premissa: escrever exige que você leia. Dito assim, parece um lugar comum. Uma frase jogada no parágrafo apenas para alongá-lo. Você pode achar óbvio. Eu acho óbvio. Ultimamente, contudo, proliferam os que entendem ser desnecessário ler, para se aventurarem na escrita.

Estes filhos dos romances de 140 caracteres com abreviações torturam os processadores de textos com narrativas lotadas de lugares comuns. Ou pior, histórias que já foram contadas milhares de vezes. Têm como diferencial, apenas, os seus peculiares erros e gramática e de construção de frases. Abra o Wattpad e veja legiões deles, revolvendo um no entorno do outro.

Para ler como um escritor

Francine Prose acredita que, em todo o leitor contumaz, há um embrião de escritor. E, para entender como se escreve, basta a este leitor ser atento. Notar como os autores clássicos e contemporâneos empregam as palavras, constroem suas frases, aglutinam os seus parágrafos e modelam, ao final, as suas obras.

O livro aborda cada um dos elementos de construção do texto e passa, também, pela narração, personagens, diálogos, detalhes e gestos. Toda a análise é feita a partir da seleção de trechos das obras utilizadas como exemplo, o que torna a sua leitura mais suave e prazerosa do que a de outras dedicadas à técnica de escrever.

Em muitos momentos em Para ler como um escritor, você vai sentir a vontade de parar a leitura e ir atrás da novela ou do conto que Francine utiliza como exemplo. É um livro que atiça a sua vontade de ler. Não fosse por suas demais qualidades, somente por essa já merecia a sua atenção. Ele chama a sua atenção para obras e autores que desconhecia. Ou, o que é ainda melhor, revela a forma e o estilo de obras que você já leu, adicionando uma nova dimensão à sua experiência.

Um exemplo sempre ajuda

Para ler como um escritor tem diversas pérolas, como essa que transcrevo, sobre o porquê o escritor deve obedecer às regras de gramática:

Um amigo romancista compara as regras da gramática, da pontuação e do uso a uma espécie de etiqueta antiquada. Diz que escrever é um pouco como convidar alguém à sua casa.
O escritor é um anfitrião, o leitor, o convidado, e você, o escritor, segue a etiqueta porque deseja que os seus convidados se sintam mais à vontade, especialmente se planeja lhes servir algo que talvez não esperem. (página 53)

Francine é democrática nos exemplos que utiliza. Deixa claro que não existem “estilos” únicos ou modelos fixos. Mostra escritores prolixos e escritores sucintos. Escritores narrativos e poéticos. Escritores que se alongam em páginas de sofrimento subjetivo e escritos secos e objetivos, focados apenas na ação dos personagens. Há um pouco de tudo. Para ela, o importante é cada um achar a sua voz e ela encontrar o seu respectivo público leitor.

Escritora com vinte e sete livros lançados, além de diversos outros ensaios e contos, Francine Prose (sobrenome adequado) também é professora de literatura e criação literária. Traz para o livro a sua experiência desde o primeiro capítulo, quando inicia com a pergunta crucial: a escrita criativa pode ser ensinada? Não sei se é possível dar spoiler em livros técnicos. De qualquer modo, para saber a resposta dela, terás que ler o livro.

Enfim, a edição brasileira de Para ler como um escritor tem um posfácio interessante de Ítalo Moriconi. Nele, Moriconi parte da mesma ideia de Francine, mas com foco na literatura brasileira.

Ao final do livro, ambos lançam a lista de obras cuja leitura consideram indispensável tanto para um leitor “sério” quanto para um escritor. A lista provoca uma sensação ambígua, que geralmente assola os apaixonados pela literatura: tantas obras para ler – e o tempo?

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