Trilogia “O Último Policial”

Trilogia “O Último Policial”

A ideia da trilogia d’O Último Policial é ótima.

Henry Palace é detetive da Unidade de Crimes Adultos da Divisão de Investigações Criminais da cidade Concord, New Hampshire. Recém promovido ao cargo, investiga a ocorrência de homicídio em um caso em que todos acreditam ter ocorrido um suicídio. Até aqui, nada de novo. Acontece que os suicídios estão ocorrendo em uma escala cada vez maior, pois o mundo está condenado ao desaparecimento. Foi descoberto um asteroide, com mais de seis quilômetros de extensão, que se chocará com a Terra dentro de seis meses e, provavelmente, extinguirá a vida humana.

Tendo sido colocado na agenda o encontro da humanidade com a morte, qual o sentido de perseverarmos em nossas atividades cotidianas? O que as pessoas fariam? Qual a função de um investigador de homicídios?

A simpatia com Henry Palace se estabelece nas primeiras páginas do livro. Ele possui um ar quixotesco em seu comportamento metódico, obstinado e na sua teimosia em fazer o que acha correto, mesmo com o mundo literalmente desfazendo-se ao seu redor. Ao contrário do cavaleiro da triste figura, contudo, não há um humor cáustico, mas sim um fatalismo que se agrega à biografia de todos os personagens.

Ben H. Winter, o autor, consegue transmitir verossimilhança na sua construção de um mundo pré-apocalíptico. O leitor acaba envolvido por aquela nota de suspense presente em toda a obra – a espera da chegada de Maia, como é chamado o asteroide. Não há saídas mágicas ou tecnológicas. A cada dia, o fim está mais próximo.  Na verdade, ele vem a uma velocidade de quarenta e oito quilômetros por segundo. E os personagens neste contexto sufocante são críveis, tanto em sua loucura quando em sua lucidez.

A trilogia é composta por livros irregulares. O primeiro, O Último Policial [The Last Policeman, de 2012], que dá nome à série, é muito bom. Há um contraste entre a banalidade do crime investigado e a urgência e importância do que está para acontecer com o mundo. O detetive se agarra a coisas simples da sua rotina, tentando dar algum significado a um mundo que se tornou caótico.

Tendo ficado órfão quando estava entrando na adolescência, Henry e sua irmã, Nico, foram criados pelo avô, com quem tinham uma relação difícil. Afora ela, com quem o detetive possui uma relação de proteção que o conduzirá através de toda a trama, ele não possui outras ligações sentimentais. Isso, é claro, sem falar em seu cão Houdini, mas não estou aqui para dar spoilers.

O segundo livro da trilogia, Cidade dos Últimos Dias [Contdown City, de 2013], venceu o prêmio Philip K. Dick Award no ano da sua publicação. Curiosamente, é o mais fraco dos três, na minha opinião.

Nele, a sociedade já está em estado avançado de desintegração. Henry perde o emprego. Os serviços públicos de água luz e telefone começam a falhar. Ainda assim, o detetive se mantém firme em completar uma missão: encontrar o marido desaparecido de uma babá que o conheceu na infância. Além disso, também lida com sua irmã e o envolvimento dela com um grupo que vê uma grande conspiração governamental nas notícias que envolvem o asteroide e que tenta salvar o planeta.

Muito embora a leitura não deixe de ser prazerosa, Cidade dos Últimos Dias passa a ideia de ser um livro escrito apenas para “esticar” a trama, a fim de que fosse atingida a trilogia. A história, cortando suas gorduras, daria dois excelentes livros.

O último livro, o Mundo nas Horas Finais [World of Trouble, de 2014], fecha a história com ação, mistério e sensibilidade. O leitor fica sempre em dúvida do que acontecerá com o personagem principal, pelo qual é difícil não ser cativado. O desfecho… bem, o desfecho faz jus à obra, cuja leitura eu recomendo a todos os que gostam de um bom policialnoir-pré-apocalítptico-quixotesco.

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