Antes que Eu Vá: Adaptação do livro escrito por Lauren Oliver.

Antes que Eu Vá: Adaptação do livro escrito por Lauren Oliver.

É impossível falar de Antes que Eu Vá sem compará-lo com outro filme – Feitiço do Tempo. Este para quem não teve o prazer de assistir, foi lançado em 1993. Um repórter de meteorologia frustrado, amargo e com humor ácido é enviado para cobrir o “Dia da Marmota” (02 de fevereiro), em uma pequena cidade da Pensilvânia. Ao acordar no dia seguinte, um hilário Bill Murray, na pele de Phil Connors, descobre que está novamente no dia 02 de fevereiro. E, na manhã seguinte, novamente no dia 02. E novamente no dia 02…

Em Antes que eu vá, Samantha “Sam” Kingston é uma adolescente bonita e popular, com três best friends e uma posição social invejável no último ano da High School. Fútil, namora um garoto igualmente popular e desejado, com quem está decidida a perder a virgindade. Você já viu esse roteiro diversas vezes, certo? Logo no começo do filme, contudo, Sam morre em um acidente de carro com suas amigas, na volta de uma festa. E, em seguida, acorda no mesmo dia do acidente (12 fevereiro, o “Dia do Cupido”). E assim sucessivamente.

Feitiço do Tempo é uma comédia. Antes que eu vá é um drama adolescente. Compartilham a mesma ideia: a repetição inexplicável de um mesmo dia. O segundo filme tinha tudo para ser uma cópia ruim. Surpreendentemente, não é.

A primeira escolha sábia tanto do roteiro adaptado de Maria Maggenti quanto da direção de Ry Russo-Young foi não esconder a referência. Feitiço está lá a cada vez que o despertador de Sam toca e ela acorda na mesma posição. Ao assumir esta postura, Ry Russo transforma o plágio em homenagem.

A segunda boa escolha foi a de Zoey Deutch para interpretar Sam. O livro original Before I Fall [Antes que eu vá, na versão brasileira], best-seller de Lauren Oliver lançado em 2010, é narrado em primeira pessoa. O filme é centrado tanto na figura quanto na narrativa de Sam. Ela aparece em quase todas as tomadas. Se não é brilhante, a atuação consegue transmitir empatia para a personagem e credibilidade para as transformações que sofre ao longo da história. Uma atuação ruim dela arruinaria o filme. Se uma crítica pode ser feita, é a de que a personagem, no livro, inicia muito mais antipática e “má” do que a Sam do filme. A suavização dos defeitos de Sam, contudo, não compromete o andamento da história.

A terceira boa escolha foi o desenlace da narrativa, mesmo com várias outras opções possíveis. Óbvio, não falarei mais do que isso.

Nos dois filmes, os personagens principais passam por um processo de compressão, primeiro daquilo que os cerca e, depois, de si próprios. O filme nos faz perceber que cumprimos nossa rotina sem olhar ao redor ou para dentro de nós mesmos. Vamos de um compromisso para outro, de um destino para outro, de uma festa para outra, de forma automática. Autômatos presos na vida que criamos ou a que nos submetemos. Revivendo o mesmo dia indefinidamente, Sam e Phil têm a chance de esmiuçar as suas vidas e acabam entrando em uma jornada de descoberta e evolução pessoal, conseguindo diferenciar o supérfluo daquilo que efetivamente importa.

No correr dos dias repetidos, Sam passa, claramente, pelas cinco fases do luto no modelo de sofrimento da psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e, finalmente, a aceitação.

Antes que eu vá tem o bullying como um dos seus temas centrais e consegue abordá-lo de forma sensível, embora não tão profunda. Estão no filme, ainda, temas como sexualidade, família, amizade e, como não poderia deixar de ser, amor.

Sobre o mar de filmes ruins que tratam da vida, dos problemas e dos dilemas adolescentes, ele navega mansamente, como um exemplo de vida inteligente.

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